"Com este ato, estou provando que tudo que faço é por amor de Deus", afirma Senad Hadzic.
por
Jarbas Aragão
Um muçulmano nascido na Bósnia é apenas um entre os mais de
dois milhões de islâmicos que chegaram a Meca, na Arábia Saudita, para a
peregrinação do hajj. Enquanto a imensa maioria viajou de avião, Senad
Hadzic foi a pé!
Ele iniciou sua peregrinação em dezembro do ano passado. Para chegar
até a cidade santa dos muçulmanos, o bósnio de 47 anos percorreu nada
menos que 5,700 quilômetros. Conta que durante o trajeto enfrentou
temperaturas extremas, que foram de 35º Celsius negativos na Bulgária a
mais de 44º C, na Jordânia.
Ele levou nas costas uma mochila pesando cerca de 20 quilos, contendo um Alcorão, uma Bíblia,
mapas e bandeiras dos países que ele pretendia atravessar. Ele passou
por sete países: Bósnia, Sérvia, Bulgária, Turquia, Síria e Jordânia.
“Desde que sai de casa, comprei uma bandeira de cada país por onde
passei. Fui muito bem recebido na Jordânia, por isso carrego com alegria
sua bandeira. Fiquei naquele país durante o mês sagrado do Ramadã,
antes de entrar na Arábia Saudita”, explica.
“Para ser honesto, antes de começar esta viagem, todos diziam temer
pela minha vida, perguntando como eu, sendo muçulmano, conseguiria
viajar em paz em países cristãos como Sérvia e Bulgária”, diz Hadzic.
Sem muito dinheiro para viajar, Hadzic afirma que dependeu da vontade
Deus e da bondade de estranhos. “Na Sérvia, as pessoas vieram até mim e
me deram um chapéu, ou meias”, explica. “Certa vez, um professor na
Sérvia me convidou para dormir em sua casa. Este professor sérvio, que
era cristão, disse-me que eu era o primeiro muçulmano que ele tinha
deixado entrar em sua casa. Foi uma grande honra para mim”.
Mas a viagem não foi livre de inconvenientes. “Eu vou te dizer, esta
viagem teve milhões de problemas”, desabafa, sem perder a fé. “Não tive
medo de um tanque ou de levar uma bala, só de desobedecer a Deus”.
Em sua página no Facebook,
Hadzic atesta que foi Deus quem mostrou a ele o trajeto durante seus
sonhos, incluindo a opção de passar pela Síria no meio de uma guerra
civil e não pelo caminho mais seguro, atravessando o Iraque.
O fiel muçulmano diz que na Turquia um homem ofereceu pagar sua
passagem de avião para que ele chegasse mais depressa e em segurança.
Hadzic recusou. Para ele viajar a pé é um ato de fé, e visava mostrar
muitas coisas a ele e todos que encontrou ao longo do caminho.
“Com este ato, estou provando que tudo que faço é por amor de Deus”, diz Hadzic.
O hajj, ou caminhada santa, é um dos cinco pilares do Islã. O Alcorão
ensina que todos os muçulmanos que tiverem condições devem ir até Meca
pelo menos uma vez na vida.
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